quarta-feira, março 24

Fragmento

Eu queria mesmo era uma ponte
Pra atravessar todo desvio
Pra pular de montanha em montanha
E rir do rio que passa lá embaixo


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domingo, março 21

Por ela


Hoje começou o outono e sinto a falta irremediável de minha mãe. Faz mais de um ano que ela foi sem se despedir e de certa forma continuo negando sua partida. Sempre houve tanto a dizer que nunca acreditei poder escrever uma homenagem que lhe valesse. Mas se é isso que faço, escrever,é por essas linhas que tenho de lhe valer tanto amor. Ela não me viu formar e não viu eu me tornar o homem que sempre quis ser. 

Tenho vivido, e toda a paixão que sinto se deve completamente a ela. Minha mãe não foi plena, não se realizou em si, porem semeou em mim essa necessidade extrema de acordar, de levantar, de viver todos os dias. Amo a vida por causa dela, e como queria poder lhe devolver a vida, ou ao menos ter a certeza de que ela partiu satisfeita com a vida teve. Me dói o tanto que se renegou para que eu conquistasse o que tenho.  Ela se sacrificava dia após dia para que eu tivesse vida, e a tenho, mais do que nunca, ainda que falte o meu melhor pedaço.

Ela se orgulhava de mim por meus menores gestos e até dizia que eu parecia meu pai mais por uma necessidade de validar o amor que sentia por ele que realmente pelo fato de ele ser alguém irrepreensível. Tenho construído minha vida por ela, por sua honra e para valer tudo que me foi dado de graça, pelo maior amor que eu poderia conceber. Todos os dias, busco me fazer digno de tudo que ganhei. Quando recebi meu diploma, me tornando o primeiro da família a ter um curso superior, apontei o canudo em direção a minha família que vibrava na platéia, como se dissesse: é por vocês. E não era. Não poderia apontar para outro lugar porque minha mãe não estava acima nem ao lado; ocupa simplesmente todos os lugares, não me deixando nunca sozinho. É como se eu pudesse sentir o tempo todo seu olhar de aprovação e apoio.

Poucos dias depois do fatídico domingo, sonhei com ela. Ela apenas surgiu para dizer tchau. Era o que eu precisava para suportar aquele momento. Ela havia partido sem me dar tempo de dizer o que eu nunca conseguiria dizer. Hoje sei que não havia mais nada a ser dito. Ela sabia, ela sempre soube.

Se vejo crianças com mães no ônibus, na rua, onde quer que seja, sinto o coração preenchido. Sinto o quanto fui amado, o que ela viveu em mim, por mim e comigo.

Ela não sentia a menor diferença entre as estações. Ainda assim brilhava como o sol no verão, era inspiradora como o outono, aconchegante como o inverno e faz da minha vida a primavera de nossas duas vidas. É por você, Cidoca, sempre foi.

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sexta-feira, março 12

Breve adeus

Este é um breve adeus.

          Mas não há como.

Como não?

          Adeus nunca é breve. É partida, mudança, morte, quem sabe.

Sim.

          E como você pode dizer que é breve?

Breve que dura só esta vida.




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