segunda-feira, julho 11

Imigrante


Chorava um rio e ainda nem era janeiro. Saudade demais. Encontrei-a sentada no canto da sala, do lado da árvore que eu montei de manhã para a gente comemorar o natal sem as crianças que ainda íamos fazer. E já não tinha como.
“Quero voltar”.
Ela era certa em tudo o que dizia. Foi assim que veio e é assim que partiu. Nas malas, só roupas. E sutilmente era como se toda a casa não tivesse mais nada. Dormi no chão. Almocei no chão. Vi no chão a notícia do ônibus que caiu.
Ela queria voltar.
Comprou a passagem de ida assim que tinha voltado e sequer telefonou. Estava certa que eu seria felicidade só de abrir a porta, só de deixá-lá entrar, só de ela colocar as malas no lugar, só de estar.
Vejo só as luzes da árvore e já é janeiro. Compro as coisas que ela tinha. Coloco na mala que ela tinha. Corro como um rio para que não termine o mês sem que eu encha a casa com ela. É o que ela faria. Com certeza.

.

quinta-feira, julho 7

Corra, corra, corra

Faltava tempo. Sobrava isso que chamam de felicidade. E de que adiantava tanta felicidade se as horas corriam sem levar na bagagem isso que dizem ser os benefícios da felicidade. Não se sentia leve porque não havia tempo. Suspirar não podia que faltava fôlego. Sobrevivia e isso era tudo o que sentia viver.
Ouvia dizer que era feliz. Talvez fosse. Na correria, não pensava. Agia e pronto. Pronto para tudo. Menos para a tal felicidade. Não havia desculpas, atrasos nem regalias. Tudo deveria ser feito religiosamente no horário. Esboçava um sorriso já na cama. Tão grande o cansaço que dormia com uma cara idiota, de quem tenta fingir e se esquece.
E um dia se esqueceu. Ninguém dizia mais que ele era feliz. Ninguém invejava isso que chamam de felicidade. Ninguém viu quando foi que parou. A verdade é que ninguém descobriu se de fato foi feliz todo esse tempo. Ainda assim, na memória ele sempre diz: bons tempos.

.