quinta-feira, agosto 26

Não colecione


Foi com uma simples plaquinha de Não Pise na Grama que Tavares começou sua coleção de nãos. Havia não de todas as formas e tamanhos. Não fume, não entre, não urine na parede e o que mais se puder esperar de um aviso. Dos amigos e de suas poucas viagens, tinha negações de todo o mundo. Aos nãos, se uniram no, don’t, nicht, inte, ne, ikke e até um hij, que até hoje não se sabe se é um não ou não.

A compulsão era tanta que as visitas hesitavam na hora de entrar na casa do Tavares. Começando pela porta, indo sala afora e avançando pelo corredor, havia centenas de palavras imperativas que assustariam a mais destemida das crianças. Quando lhe perguntavam se ele também era assim, tão negativo, Tavares sorria e dizia que não, era um otimista, um dos últimos. Por que da coleção, então? Por que não?! ele respondia.

Os amigos mais próximos tinham uma teoria. Tudo havia começado há uns 2 anos, quando Tavares namorava Marcinha. Apaixonado que só, fazia juras e juras e a menina se fazia de carinhosa enquanto colocava em sua cabeça mais chifres que placas na sala. Mesmo ouvindo o pior dos amigos, Tavares resolveu que era hora. Convidou Marcinha pro restaurante mais caro da cidade e perguntou: “Quer se casar comigo?”. Não demorou 2 segundos pra ela dizer secamente. Não.

A vida seguia sua ordem até o dia em que, saindo de um show, Tavares viu colada uma folha simples de papel: Saída sem retorno. Recolheu o aviso sem que ninguém o visse e foi-se, dizendo ir para casa. Mas nunca mais voltou.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário