segunda-feira, novembro 29

A volta

Na mala, guardei apenas uma muda de roupa. O resto era saudade. Tão grande que sentia saudade da saudade que sentia. Não tinha certeza se daria certo, se voltar era o correto, se ela acreditaria nas desculpas que inventei. O resto era verdade.
Partir dói mais para quem fica. Nos dividi sem lágrimas, não mandei notícias e procurei não saber. Foi assim que achei. E bastou saber que ela continuava lá, que – ao contrário da memória que a gente controla – não havia se desfeito no ar, para que não houvesse mais nada à frente. O impulso era voltar.
Ela não abriu a porta e da janela me viu esperar todo o dia, a noite passando, nova manhã, recebi o leite, e ela não abriu a porta. A mala virou travesseiro, as duas roupas se revezavam na árdua tarefa de ser casa na chuva e vergonha no sol, o dinheiro acabou, a fome chegou e ela ainda não me quis.
O tempo se faz amigo de quem não tem pressa e um dia ela cedeu. Vi sua fortaleza abrir a porta para mim. A cara lavada, a alma fresca e de tão renovada não era a mesma que precisava de mim. Perdi o motivo de ter chegado. Um caminho tão longo, uma jornada tão dura e já não queria entrar. Ainda assim disse tudo o que ensaiei sentir. Havia pouco de verdade. O resto era saudade.

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