Não são só os velhos que envelhecem. Marina escreveu.
Ela colocava as mãos sob o papel antes de escrever. Com o
lápis, seguia o contorno do que havia dito à folha. Escrevia sussurrando. Eu ouvia
o leve atrito entre o grafite e a fibra e era mais como um contrato, como se um
permitisse ao outro se eternizar enquanto morria. Marina escrevia mentiras. Criava
casos. Inventava histórias. Matava lápis.
Deixei de ser menino em uma aula de redação, em 1995. O papel
estava em branco e eu olhei ao redor pela primeira vez. Eu vi o absurdo de
estar em uma aula de redação. Senti a gravidade de ter de estar ali. Eu me
deixei estar, mais sério, grave e controlado.
Não foram meus tantos anos ou a voz grave que me tornaram
homem. Nem as trinta e duas noites que havia passado fora de casa. De repente,
eu não me perguntava o que eu seria e me tornei o que era. Foi depois de
apontar o lápis. Depois de saber que o tema da redação não tinha a menor importância.
Pouco antes de olhar a folha branca.
Eu coloquei as minhas mãos sobre o papel e ele me disse.
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