Era o menino. Era o pai. Era
um ônibus e eu julgava que uma mãe indulgente havia deixado ali a criança,
sentada, ao lado do motorista, sobre o motor do ônibus olhando fixamente para a
frente. Reclamava internamente o absurdo quando vi a pequena mão sobre o câmbio.
Outra, maior, lhe vinha por cima, encaixava naturalmente e ambas moviam a
alavanca, pai e filho nos guiando pela cidade. Não poderia haver maior
seriedade que a daquele garoto, que não era nem motorista nem ajudante,
fundia-se no pai e cumpriam os dois uma missão da mais absoluta importância.
Quando puxei a corda e
desci, nem pai nem filho me olharam. Sabiam o ponto de cor, sabiam que deveria
virar à esquerda, depois mais dois quarteirões e chegariam à estação. O menino
deixaria a seriedade de um condutor pra ser a criança que o tempo lhe deixava
ser. Ele sabia ser sério sem deixar de ser leve. Eu não sabia mais ser leve e
não me levava a sério.
Caminhei alguns metros até
parar em frente ao meu apartamento. Coloquei a mão sobre a fechadura e, antes
de girar, lembrei que não havia nenhuma mão sobre a minha. Nenhuma mão sob a
minha. E nunca mais fui menino.
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Lindo! Adoro quando essas observações do cotidiano fazem a gente se enxergar melhor.
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