sexta-feira, junho 1

Objeto indireto


A folha de rosto tinha a assinatura dela. Um certificado de posse de um romance que outro contava, mas que agora, pelo acaso de ter topado com a capa numa livraria e apreciado o título, era a história dela. O livro descansava na estante da sala, na mais alta prateleira, quase inatingível para os poucos um e sessenta dela. Quando ele lhe disse tem algo pra eu ler, ela sabia. Amanhã lhe trago. Trouxe. Ele apreciou o título, passou os olhos pela capa e sorriu para ela. Esperou chegar em casa e, já na cama, preparou apenas um pouco de luz para iluminar a cabeceira e se entregou à leitura.
Passava as mãos pelas curvas do livro. Ia se entranhando vagarosamente dentro da trama. A história o tomava e passou a noite inteira com ela. Quando o dia amanhecia, ele chegou ao clímax. Não queria que acabasse. Diminuiu o ritmo nas últimas páginas, como que para imortalizá-las. Quando fechou a capa que foi o início de tudo, ela abriu os olhos. Em outra cama. Na mesma história.
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